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A carregar... Nothing to Be Frightened Of (original 2008; edição 2009)por Julian Barnes (Autor)
Informação Sobre a ObraNothing to Be Frightened Of por Julian Barnes (2008)
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Adira ao LibraryThing para descobrir se irá gostar deste livro. Ainda não há conversas na Discussão sobre este livro. Aproveitar que nessa atualização do Goodreads ficou mais cômodo separar as resenhas por edições, e testar a funcionalidade: — **A aposta de pascal; e a interessante forma do Nada a Temer: (28pp a 32pp):** Partindo de memórias, Barnes narra episódios de seu passado, questões familiares, entraves pessoais, o anuviar da lembrança e a margem da ficção. Neste, que é um dos curtos capítulos da primeira metade do livro (a maioria o são; sucintos, palatáveis) lembra de quando era estudante de universidade, e estagiou numa escola católica da Bretanha. Lembra do encontro com um jovem padre de fervorosa fé, e parte de uma conversa com o rapaz — que ele guarda até mesmo tom e a frase proferida (isso vai ser problematizado depois pelo próprio Barnes, numa interessante questão sobre a ficção) — para chegar na aposta de Pascal. A aposta de Pascal é simples, se acreditarmos em Deus e no fim Deus existir, ganhamos, se acreditarmos, e no fim Deus não existir, perdemos; mas, não tanto quanto se não acreditarmos e Ele existir. “Talvez não seja tanto um argumento como uma tomada de posição interesseira (…)'' e emenda: "mas a primeira aposta, sobre a existência de Deus, depende duma segunda e simultânea aposta, sobre a natureza de Deus. E se Deus não for como o imaginamos? Se, por exemplo, Ele reprova os apostadores, principalmente aqueles cuja suposta crença n’Ele depende dum pensamento interesseiro? E quem decide quem ganha? Nós não: Deus pode preferir o cético honesto ao oportunista interesseiro." Recorda então, de um episódio, em Kiev, julho de 2006, e narra brevemente: “no Jardim Zoológico de Kiev, um homem desceu por uma corda até à fossa murada onde estão os leões e os tigres. (…) ele [diz]: «Quem crê em Deus não será atacado pelos leões»; segundo outra, foi ainda mais provocador: «Se Deus existe, salvar-me-á.» então uma leoa irritada derrubou-o e, com os dentes, cortou-lhe a carótida. Isto provará: a) que o homem era louco; b) que Deus não existe; c) que Deus existe, mas não cai no engodo de se manifestar com truques tão baixos; d) que Deus existe mesmo e acaba de provar que pratica a ironia; e) ou nada disso?" E vai (esse ir e vir de relatos, memórias, opiniões, narração, é constante em todo o livro) até um dos cadernos de Wittgenstein, e tira uma frase, que atinge um pensamento muito popular a nós brasileiros, ao menos é o que mais vejo a minha volta, num misto e mistura de religiões e superstições; aquele de que você deve acreditar porque mal não faz… “exceto,” diz Barnes, “o [mal] de não sermos verdadeiros, coisa que para alguns pode ser um mal irredutível e não negociável." Soa como exagero, pois o é. E o Barnes joga com isso. A frase solta, ou a “a aposta, feita para parecer que não é aposta (…) [caso] fôssemos a divindade, ficaríamos um tanto indiferente a aval tão frouxo"ganha outro contexto, quando o intencionalmente o Barnes mostra de onde o tirou: "Wittgenstein foi professor de várias escolas em aldeias remotas do Sul da Áustria. Os habitantes locais achavam-no excêntrico e austero, mas dedicado aos alunos (…) Em Viena passaram dois dias a fazer o mesmo [passeio] com vários exemplos de arquitetura e tecnologia. Depois apanharam o comboio de volta a Gloggnitz. Quando ele chegou, caía a noite. Lançaram-se na caminhada de regresso, dezanove quilómetros. Wittgenstein, sentindo que muitas das crianças estavam assustadas, abeirou-se de cada uma e disse calmamente: «Estás com medo? Bom, então tens de pensar unicamente em Deus.» Encontravam-se, literalmente, numa floresta escura. «Vá, acredita! Mal não faz.» E provavelmente não fez." ** Como ele mesmo diz, é um escritor transgênero. No sentido de: não lhe interessa convenções. Eu fui atrás da notícia que ele cita de Kiev, e não existe; me parece uma invenção alá às do Borges. Mas pouco importa. A memória, também é duvidosa (em si): “o romancista (outra vez eu) está menos interessado na natureza exata dessa verdade e mais na natureza dos crentes; no modo como abraçam as crenças e na textura do terreno entre as narrativas concorrentes. Mesmo que seja ela que paute a maior parte do livro. “Um romancista é alguém que não se lembra de nada, mas regista e manipula versões diferentes daquilo de que não se lembra.” “Para o escritor mais velho, memória e imaginação parecem diferenciar-se cada vez menos. Não é porque o mundo imaginado esteja realmente muito mais próximo da vida do escritor do que ele ou ela quer admitir (um erro comum entre os que dissecam a ficção)” Isto é apenas um recorte. Só lendo mesmo, para você apreender a maneira como esse trecho, e muitos outros, de ficção e memória, dialogam com o ponto de vista do escritor Barnes de uma maneira mais ampla. Episódios de infância que modificam-se totalmente a partir de relatos de diferentes participantes, em um livro que tem como “superfície” e aí ele já é interessante, foi inclusive a minha razão de pegar para lê-lo, o tema da morte na visão de muitos escritores, parentes e filósofos do autor, que é o ponto de toda a minha outra resenha, bem mais pessoal. “O meu irmão desconfia da maior parte das memórias. Eu não desconfio, prefiro ver nelas o labor da imaginação, que contém uma verdade imaginativa e se contrapõe à verdade naturalista. Ford Madox Ford podia dizer grandes mentiras e grandes verdades, ao mesmo tempo e na mesma frase.” Las experiencias religiosas de la familia del autor eran, como mínimo, tenues. Su hermano filósofo, Jonathan Barnes, después de ir a un par de servicios religiosos recuerda haberse sentido como un «niño antropólogo entre antropófagos». Julian Barnes tampoco cree en Dios, pero dice que le echa de menos. Y así comienza esta irónica y divertida memoria familiar –con vívidos retratos de sus abuelos, sus padres, y su hermano filósofo, pero también de los escritores que le acompañan cada día–, una meditación sobre nuestra condición de mortales y una intensa celebración del arte y la literatura. «Barnes tiene una inteligencia vivaz, y una voz muy particular, que da a sus oscuras meditaciones una cierta ligereza, e incluso alegría» (Frank Kermode, The New York Review of Books); «Una obra maestra. Un paseo deslumbrante por los temas favoritos de Julian Barnes: la literatura, la música, Francia, pero también Dios, la religión y la muerte. Un libro admirablemente construido, maravillosamente escrito, y fabulosamente ilustrado por citas» (Bibliosurf.com). A brilliant collection of loosely joined thoughts and anecdotes on death, delivered in beautiful words. Humorous, light-handed, but not lighthearted, just a great read about death and dying, and how a lot of other writers and artists perceived it. A book you can pick up again and again, each time a little closer to death, and you may marvel at the fact, that you are going to die, as so many did before you, and how many thoughts can be thought regarding this simple fact. Pertence à Série da Editorabtb (74213) PrémiosDistinctionsNotable Lists
"I don't believe in God, but I miss him." So begins this book, which is a family memoir, an exchange with his brother (a philosopher), a meditation on mortality and the fear of death, a celebration of art, an argument with and about God, and a homage to the writer Jules Renard. Barnes also draws poignant portraits of the last days of his parents, recalled with great detail, affection and exasperation. Other examples he takes up include writers, "most of them dead and quite a few of them French," as well as some composers, for good measure. Although he cautions us that "this is not my autobiography," the book nonetheless reveals much about Barnes the man and the novelist: how he thinks and how he writes and how he lives. At once deadly serious and dazzlingly playful, this is a wise, funny and constantly surprising tour of the human condition.--From publisher description. Não foram encontradas descrições de bibliotecas. |
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Google Books — A carregar... GénerosSistema Decimal de Melvil (DDC)823.914Literature English & Old English literatures English fiction Modern Period 1901-1999 1945-1999Classificação da Biblioteca do Congresso dos EUA (LCC)AvaliaçãoMédia:
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Não é uma mão de apoio, ou um ombro amigo que diz, quase religiosamente, «não, meu caro, não há nada a temer.»; também não é um sussurro que tonifica e que degusta, o "nada" mórbido da frase, com um sorriso malicioso no rosto «NADA.... a temer.» Nothing to be Afraid Of, do Julian Barnes, pode até pender para ambos os lados, certas vezes, até cair em sofismas, mas somente de propósito, investindo-se de verdade em cada ponto, com intenção de desconstruí-los, anuí-los, descartá-los, ou, apenas, cortá-los pela tangente.
As reflexões suscitadas, através do seu próprio ponto de vista, do diálogo com seu irmão, ou da extensa lista de autores citados, corta pelos campos da morte, memória, imaginação, vida, arte, religião, ficção, e muitos outros temas. São capítulos em sua maioria curtíssimos, mas, densos; ao ponto de que um “capítulo” de poucos parágrafos, que leva cinco minutos (ou menos) sendo lido, te coloque por muitos minutos adicionais em um estado reflexivo tenso, a pensar, a anotar, a dialogar com o livro; a relembrar, e também a inquirir sobre a sua própria vida e existência no geral.
Não há muito o que abordar em questões estilísticas, é escrito como um grande ensaio pessoal, ou livro de memórias, e a voz vai tornando-se cada vez mais familiar conforme você avança na leitura. Toco nessa questão da familiaridade da voz, pois se trata justamente dela, com a adição da estuturação e da construção, que fazem com que esse livro não se encaixe em nenhuma convenção ou gênero.
Aqui no Goodreads, por exemplo, a primeira prateleira onde coloca-se o livro, é na fileira da Nonfiction. No entanto, os capítulos finais tratam justamente da ambiguidade conquanto o que é ou não ficção; da área nebulosa entre ficção, imaginação, e realidade. É posto, e comprovado empiricamente pelo Barnes, através da comparação das lembranças dele e do irmão, aquilo que é quase saber comum, que a memória pouco tem de factual, ela é montada por nós na nossa cabeça, principalmente as mais antigas.
Portanto, quando escrevemos, a partir de nossas memórias, estamos nos distanciando ainda mais da realidade, ou, pelo contrário, furando a colcha da memória? E isso importa para os fins literários?
>"A história, ou história potencial, ficaria estragada. Conheço um escritor que gosta de se deixar ficar nos bancos de jardim a ouvir conversas; mas, assim que aquilo que ouve ameaça revelar mais do que profissionalmente lhe interessa, afasta-se. Não, a ausência e o mistério são para nós (eu e ele) resolvermos."
"Um Bertie que se transformou em Bert; um voluntário tardio; uma testemunha silenciosa; um sargento exonerado como soldado; uma fotografia desfigurada; um possível caso de remorso. É aqui que trabalhamos, nos interstícios da ignorância, na terra da contradição e do silêncio, e que tentamos convencer-vos com aquilo que aparentemente é conhecido. Resolver — ou tornar útil e viva — a contradição e tornar o silêncio eloquente."
"A ficção é feita por um processo que combina liberdade total e controlo absoluto, que equilibra a observação precisa e o jogo livre da imaginação, que utiliza mentiras para dizer a verdade e a verdade para dizer mentiras. É ao mesmo tempo centrípeta e centrífuga. "
"Um romancista é alguém que não se lembra de nada, mas regista e manipula versões diferentes daquilo de que não se lembra."
Com o auxilio de amigos, do irmão, Montaigne, Jules Renard, Gustave Flaubert, Doris Lessing, Émile Zola, Somerset Maugham, Cicero, Wittgenstein, e muitos outros, Barnes fica nas margens embrunecidas da linha traçada dos gêneros literários, não inaugurando, mas, mesmo que minimamente, ajudando a consolidar o “livro” moderno, após a ascensão, declínio e queda do Romance; pelo menos, é assim na minha cabeça. Se há algo de verdadeiro nisso, só o tempo irá dizer. Como diz o Renard, "Poil de Carotte* e eu vivemos juntos, e espero morrer antes dele."
Para concluir: há livros marcantes, há aqueles que moldaram e sustentaram nosso gosto pela literatura, outros onde a técnica ou o deleite estético arrebatam, catárticos, aos moldes aristotélicos. Fora — mas certas vezes também junto destes — há aqueles que por alguma razão nos tocam intimamente, pessoalmente; e alguns, vão além, mais fundo, objetiva e concretamente mudam algo na sua vida; este foi um desses casos.
Um verso ficou na minha memória, uma verso que aparece nas Odes do Horácio, tratando de como o tempo flui inexoravelmente, e como certas vezes o faz (Horácio/Eu-Lírico) levantar no meio da noite e parar todos os relógios. Frequentemente, de tempos em tempos, algo parecido me acometia, desde a adolescência, quando meu “sentido de mortalidade” despertou numa aula de ciências no Ensino-Médio.
Desde lá, me acompanha (ou supostamente, acompanhava), me levantando no meio da noite, com a vertigem, a aflição e o apavoro clássico que só a sensação de finitude consegue passar. Vinha sempre na madrugada, como um gancho que nocauteia o boxeador, me tirando das profundezas do “Hmm… que soninho gostoso” nos campos verdes do Sonhar, para o “Vou morrer. Sou mortal. Não há escapatória”, no escuro do quarto, suando frio com as mãos na cabeça.
Isso se repetiu ao longo de anos, aumentava e diminuía de frequência sem obedecer leis específicas. Mas, desde que li o livro, a fundo, e realmente pensei, dialoguei, ouvi, conversei, com o Jules, com Cicero, Barnes, ao longo desse livro, simplesmente nunca mais me aconteceu. Ainda penso na finitude, na efemeridade, mas de uma maneira menos aterradora. E melhor, não mais me desperta no meio da noite com um gancho psicologicamente mais forte que o do Lomachenko.
Mesmo que o Barnes diga, e parece realmente crer, que falar sobre a morte não diminui em nada o medo, o impacto, a vontade de remar contra a maré, há algo sim, que permeia esse tipo de conversa, esse tipo de livro. Para mim, foi libertador, disruptivo, fascinante, pela força exercida na minha vida real, através das páginas, das palavras, de diversos outras pessoas, das mais diversas profissões, dos mais diversos cursos, e dos mais diversos tempos. Livrasso.
Termino com o supracitado poema das Odes de Horácio (busquei aqui):
Lembro uma menina…
Como pode…
outrora fui a pequena Resi,
e um dia me tornarei uma velha?
…Se Deus quer que seja assim, por que me permite
vê-lo? Por que não o esconde de mim?
É todo um mistério, um mistério tão profundo…
Sinto a fragilidade das coisas no tempo.
Dentro do meu coração, sinto que não deveríamos nos agarrar a nada.
Tudo escorrega por entre os dedos.
Tudo o que tentamos pegar se dissolve.
Tudo desaparece como névoa e sonhos…
O tempo é uma coisa estranha.
Quando não precisamos dele, não é nada.
Depois, de repente, não existe outra coisa além dele.
Rodeia-nos por todos os lados. Está também dentro de nós.
Insinua-se através da nossa face.
Insinua-se no espelho, escorre pelas minhas têmporas…
E entre você e mim escorre em silêncio, como uma ampulheta.
Oh, Quinquin,
Às vezes o sinto fluir inexoravelmente.
Às vezes me levanto no meio da noite
e faço parar todos os relógios…" ( )